terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

TEXTO REFLEXIVO - GAIOLA ABERTA AINDA É GAIOLA?

Gaiola aberta ainda é gaiola?
Fonte da imagem: https://www.kiaga.com.br/placa-decorativa-gaiola-de-passaros-aberta/p/k1815

O que é a vida? A vida é uma forma amorfa, moldável, mutável, palpável. A vida não tem definição própria porque ela é o que se faz dela.  Por isso foge a lógica humana, embora aconteça, culpar a vida ou o universo por uma situação vivente. Porque se a vida é o que se faz dela, o culpado de todas as formas e cores que ela toma, é o seu feitor. E se a vida for feita gaiola? E porque existe essa suscetibilidade humana a fazer sua própria prisão? Em que momento a perda de controle humana o torna vulnerável a um ser escravo de sua própria mente? O que acontece de fato é que a sociedade em si se tornou um abismo para seus próprios donos. Se a ideia de sociedade é um funcionamento dinâmico e saudável da vida, porque seus dilemas e costumes criam um rito de descaracterização própria? Os humanos se cortam para se encaixar, se diminuem e se prendem em seus próprios problemas. Se a vida é o que se faz dela, por que é tão difícil torná-la boa? Decisões pesam, mas podem ser tomadas, independentes do quão difíceis se mostrem. Ao mesmo tempo, de algum lugar saem todas as ideias, decisões e ações: da mente. 

Todos os movimentos humanos, primitivos ou contemporâneos, se originam no sentimento. Mas sentimentos não são controláveis, certo? E a liberdade seria agir de acordo com os próprios sentimentos? Se não for, como um indivíduo pode ser feliz se não muda seu lugar de acordo com o que sente, para buscar seu melhor lugar? Se os sentimentos não são controláveis, como a vida pode ser moldável? Como controlar algo se todas as ações tomadas se originam de algo incontrolável, os sentimentos? É fato que a culpa de sentir não existe. Ninguém é culpado por sentir, porque seria o mesmo que culpar alguém por ter necessidades fisiológicas, o mesmo que culpar alguém pelos movimentos involuntários e essenciais do coração. 

Não se pode culpar ninguém pelo incontrolável. E mesmo assim estamos fadados a sentir a culpa, uma culpa inexistente, criada em nossa própria cabeça, alimentada por nossas próprias expectativas, expectativas frustradas pelos nossos próprios sentimentos, sentimentos que, porém, nós não controlamos. E é aí que a mente torna aquela vida moldável, que poderia ser linda e leve e fluida e feliz, em gaiola. Nossa própria gaiola. Grades feitas do que criamos, dos dilemas que nossos sentimentos criam e dos quais não somos capazes de sair. O fato é que a culpa das paredes da gaiola é feita de sentimento de fracasso. Nada na vida é capaz de prender, além do sentimento de fracasso, de sentir que não foi como planejado. 

Humanos não sofrem pela perda de um emprego, pela perda de um amor ou pela perda de um bem. Sofrem pelas expectativas que criaram e não foram concebidas, pelos planos que fizera e fracassaram. E se a vida é moldada pelo que se sente, e não temos o controle dos sentimentos, a gaiola se quer existe, pois não existe culpa no que não se controla. Mas ela é criada, como antes dito. E se a vida é amorfa e moldável, a gaiola está sempre aberta. É sempre possível desfazê-la, moldá-la novamente. Mas afinal, gaiola aberta, ainda é gaiola?

Por KAUANA SALES DO NASCIMENTO

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