Em 9 de novembro de 1989 a Guerra Fria foi dada como encerrada simbolicamente pela queda do muro de Berlim. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) se iniciou um novo período de embates ideológicos, a URSS tentava mostrar ao mundo a força e importância do sistema socialista e, do outro, os Estados Unidos tentava expandir o sistema econômico capitalista por todo o globo. Após uma intensa disputa ideológica que se arrastou por quase meio século, provocando confrontos indiretos, guerras financiadas, disputa tecnológica e ideológica, corrida armamentista e espacial, a maioria dos países, aos poucos, foram se rendendo a supremacia e hegemonia norte-americana, enquanto a antiga URSS entrava em colapso. O mundo, no final do século XX, deixava de ser bipolar e se tornaria unipolar sob forte influência dos Estados Unidos.
Embora fosse escancarada a superioridade americana, pouco a pouco foram se consolidando novas potências no cenário político e econômico desencadeando a formação de novas forças. Alguns países europeus, arrasados durante a Segunda Guerra Mundial, já se recuperavam economicamente, o Japão, fortemente arrasado pelas explosões nucleares também mostrava sua resiliência e acelerada recuperação, a China, já se despontava como país em potencial acessão e, pouco a pouco, o mundo tornava-se novamente multipolar. A globalização acelerou o processo de integração mundial. Com o acelerado desenvolvimento tecnológico nos meios de transporte e comunicação, impulsionado durante a Guerra Fria, nações dos quatro cantos da Terra formavam acordos comerciais e/ou se reuniam em blocos econômicos, as relações comerciais se multiplicaram em uma velocidade jamais vista, e no advento da Revolução Técnica-Científica-Informacional, categoricamente nomeada por Milton Santos, passamos a viver em uma “Nova Era”.
Com o fim do embate ideológico chamado de Guerra fria, muitos países se desmembraram da antiga URSS: Armênia, Azerbaijão, Bielorússia (hoje Belarus), Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão. Apesar da antiga República Soviética, agora chamada de Rússia, estar mergulhada em uma crise econômica, continuava a firmar alguns acordos políticos com Estados Unidos visando o bem estar de seus mercados e na tentativa de tirar alguma vantagem econômica. Dentre os acordos, ficou estabelecido que os norte-americanos não estenderiam a OTAN para o Leste europeu. Um pouco mais tarde, em 5 de dezembro de 1994, o Memorando de Budapeste garantia a segurança de seus signatários ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, com adesão da Ucrânia, que na época tinha o terceiro maior arsenal nuclear do mundo e teve que o abdicar. O Memorando foi originalmente assinado por três potências nucleares: a Federação Russa, os Estados Unidos e o Reino Unido. China e França mais tarde deram declarações individuais de garantia também.
Embora parecesse que as duas potências da Guerra Fria não se enfrentariam novamente em disputas ideológicas de cunho nuclear, no início dos anos 2000, EUA e Rússia, atuavam de forma sistemática pelo Conselho de Segurança da ONU em missões de paz em várias partes de globo, inclusive combatendo ações terroristas no Oriente Médio, além de financiar e equipar belicamente outros países.
Aos poucos, a Rússia tornou-se novamente um país em crescimento e incorporou o bloco formado pelas economias com o crescimento mais acelerado do planeta, o BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e, principalmente, a China. Esta se tornou a maior concorrente norte-americana na disputa pela hegemonia econômica mundial, além de ser o principal aliado Russo.
FONTE DA IMAGEM: https://www.istoedinheiro.com.br/sirenes-de-ataque-aereo-estao-soando-na-capital-da-ucrania-kiev/
Mas o que levou a invasão da Ucrânia?
A Crimeia é uma península situada no Mar Negro e apresenta uma importante posição geográfica e estratégica para a economia mundial. Em 2014, a região que pertencia a Ucrânia foi anexada a Rússia motivado por algumas razões: a deposição do presidente ucraniano que apoiava a Rússia em 2014, ama onda separatista que colocava em questão a soberania da Crimeia, um referendo que aprovou a anexação da Crimeia ao território russo e que não foi reconhecido pelo governo ucraniano e tampouco pela maior parte da comunidade internacional. Durante a Crise da Crimeia de 2014, os Estados Unidos afirmaram que o envolvimento russo é em violação das suas obrigações para com a Ucrânia no âmbito do Memorando de Budapeste, e em clara violação da soberania e da integridade territorial da Ucrânia. Esse conflito é um dos motivos pelos quais houve uma escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia em 2021 e 2022, culminando em um conflito armado.
Outra razão pela qual desencadeia-se este conflito foi a ideia de que Estados Unidos teria descumprido a promessa feita depois do fim da Guerra Fria, de que a Otan não iria se expandir para o Leste Europeu. Na prática, o que houve foi uma continua expansão para vários países, como: Lituânia, Estônia, Polônia e, agora a Ucrânia, país vizinho a Rússia. Para a especialista Bárbara Motta, professora de Relações Internacionais da UFS, em entrevista à CNN, “a mensagem que a Rússia pretende passar para o mundo é de que realmente não aceita qualquer tipo de expansão que a Otan venha a fazer em solo ucraniano. Uma das percepções do início desse ano, foi que Putin fez uma longa fala que tanto a Rússia quanto a Ucrânia teriam uma mesma ligação histórica. Essa percepção que a Otan se aproxima cada vez mais da fronteira da Rússia é algo inaceitável, seja pelo presidente Putin, seja para algumas partes da liderança política russa”, explicou Motta.
Outro fator que fortaleceu o conflito foi uma forte onda de grupo separatistas nas autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk. Os separatistas são amplamente liderados por cidadãos russos. Os paramilitares voluntários russos são relatados por compor entre 10% e mais de 50% dos combatentes. Como resposta a insurreição no Leste, o governo ucraniano iniciou a chamada "Operação Anti-terrorista", lançando uma série de ofensivas e reavendo várias cidades e regiões ocupadas pelos separatistas.
De acordo com Putin, o estopim para a invasão do território ucraniano em 24 de fevereiro por comboios russos foi para evitar um genocídio, proteger a população local e desmilitarizar o país vizinho.
De fato, se buscarmos motivos para provocar uma guerra encontraremos diversas razões que camuflam as verdadeiras intencionalidades ideológicas. Sabemos que nada justifica a violação dos direitos humanos, porém, sabemos também que não vivemos em um mundo estático e equilibrado. Ainda não sabemos o desfecho desse conflito, mas torcemos para que as consequências não sejam tão devastadoras.
Por Diego Júlio Conrado Aragão
Licenciado em Geografia - UECE
Esp. Planejamento e Gestão Ambiental
Pós-Graduado em Gestão Escolar
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
- https://brasilescola.uol.com.br/geografia/a-importancia-estrategica-crimeia.htm
- https://www.google.com/amp/s/www.cnnbrasil.com.br/internacional/para-putin-ocidente-descumpriu-promessa-de-otan-nao-expandir-diz-especialista/%3famp
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Memorando_de_Budapeste
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_em_Donbas
- https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/02/26/russia-invade-ucrania-10-questoes-para-entender-a-crise.ghtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário